DANIELA TÓFOLIda Folha de S.Paulo
A ex-jornalista Mirian Macedo, 53, obteve na Justiça o direito de manter no site Escola sem Partido (www.escolasempartido.org) texto no qual diz que o sistema de ensino COC utiliza um "método pedagógico pornomarxista". Mãe de uma aluna do Colégio Pentágono, em São Paulo, diz ter ficado chocada ao ler o material escolar usado pela filha. "Não acreditei no nível de doutrinação esquerdista."
Estudiosa de doutrinação e marxismo, Mirian diz que as apostilas têm erros de informação. Em seu texto publicado no site, cita o seguinte trecho do material: "(...) a escravidão no Brasil, justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado como animal, pois era 'desprovido de alma'. (...) Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira?".
Sobre ele, a ex-jornalista escreve: "Sandice é dizer que a Igreja legitimou a escravidão. Em 1537, o papa Paulo 3º publicou a Bula Veritas Ipsa, condenando a escravidão dos 'índios e as mais gentes'."
Texto correto
Procurado pela Folha, o teólogo Fernando Altemeyer, da PUC-SP, diz, porém, que o texto da apostila está correto. "Está escrito de forma grosseira, panfletária e descontextualizada, mas a Igreja apoiava a escravidão na América Latina."
Já a resposta da mãe da aluna, segundo o teólogo, não leva em conta o fato de a bula papal não ter sido aplicada.
*"Ponto de partida"*
Mirian resolveu tirar a filha da escola, que há três anos usa o material do COC. A diretora-pedagógica do Pentágono, Gracia Klein, diz que antes disso a escola já decidira mudar o material didático. "Nenhum material é perfeito. É ponto de partida para discussões orientadas pelos professores."
O COC enviou uma resposta ao site Escola sem Partido, publicada na íntegra, mas, considerando ter sido ofendido por expressões como a "pornomarxista", entrou na Justiça.
"Conseguimos uma liminar que, há duas semanas, foi cassada. Agora estamos decidindo o que fazer enquanto o processo continua", afirma o diretor da Editora COC, José Henrique Del Castillo Melo. "Não adotamos nenhuma linha de pensamento. Mostramos várias versões [no material]. Educar não é doutrinar, é lançar assuntos para os alunos aprenderem a ter pensamento crítico", diz Melo.
Segundo Melo, a avaliação da editora, que atua com 280 escolas parceiras, é a de que os textos não estão errados. "Mas podemos melhorar a redação."
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